CHÃO

Malabarismo térreo

Imagem e processo de mão dada

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Proposta para a Residência Artística no CAMPUS Paulo Cunha e Silva

A imagem é convidada a formar parte do processo de criação de CHÃO, sendo que por imagem entendemos fotografia — em pausa e silêncio — e vídeo — em movimento e sonoro, que, tal como a dança e o malabarismo, são meios de expressão por si mesmos. A relação entre imagem e artes performativas é clara ao nível da documentação e da comunicação; neste projeto queremos pesquisar de que formas a imagem se pode articular com o processo de criação, contribuindo para a conceção da obra artística. Composição do corpo no tempo e no espaço, ritmo, geometria, profundidade, forma, relação e improvisação são algumas das características transversais a estas áreas e que constituem o chão a partir do qual se impulsa a pesquisa. Os três eixos principais da investigação são: significação, sugestão e manipulação.

Significação
A câmara — por vezes suave, quase invisível, e outras interferindo, propondo direções — permite observar, interpretar e compreender desde um outro ponto de vista, contribuindo para a criação, processamento e armazenamento de símbolos e significados. Este é um processo intuitivo de equilíbrio entre dois mundos, o interior e o exterior, consciente e inconsciente, em diálogo constante. A câmara não tem uma intenção explícita — a não ser a de encontrar ordem no caos —, tem uma intuição que depois pode vir a ser apreciada segundo a sua relevância para o projeto.

Sugestão
Testemunhar é uma forma ativa de observar, de presenciar (que implica estar presente), e pode ser uma aliança do processo criativo. Também os criadores intérpretes são incentivados a observar o que lhes capta a atenção e a trazer material do exterior que possa servir de reflexão e inspiração em estúdio. De que forma material externo pode influenciar o interno? E vice-versa?

Manipulação
A câmara como objeto passível de ser manipulado e que potencia o ponto de vista do intérprete e/ou do objeto, existindo uma maior proximidade com os corpos que revela detalhes da relação.
No processo de manipular imagens, podem ser descobertas diferentes ligações, sem ter que recorrer a uma repetição física exaustiva.

Reflexão

Esta simbiose partiu da minha vontade de contribuir para o projeto desde fora, a partir de um olhar externo sem e com câmara. Acompanhar processos com fotografia e vídeo e partilhá-los é algo que me tem motivado. Mais do que uma vez me vi na posição de fazê-lo desde dentro, enquanto intérprete, o que fazia com que continuamente tivesse que buscar soluções. Definitivamente não é a condição ideal para a documentação, mas o entusiasmo veio daqui. No CHÃO tenho a oportunidade de me experimentar como observadora, o desafio maior é desmultiplicar-me em fotografia, vídeo e olhar externo, o que requer uma boa gestão dos recursos. Penso que conhecer a matéria desde dentro — artes performativas em geral e malabares em particular —, ajuda no momento de captar imagens, de as selecionar e editar.

Para além de comunicar um projeto que ainda não está finalizado, há imagens que indicam caminhos e adquirem uma força própria independente do objeto performativo ou que, em sequência, podem ajudar a compor, a ver um antes e um depois. Para além disso, uma vez que o projeto envolve pesquisa e improvisação, os registos são uma forma de guardar momentos aos quais, muitas vezes, dificilmente voltaríamos. Há imagens que fazem já parte da biografia do CHÃO. Para nós são guias no processo, sugerem relações e atmosferas visuais e sonoras, influenciam a interpretação do objeto artístico e são objetos artísticos por si mesmas. Para o público são pistas de um caminho que se vai percorrendo a cada residência e a possibilidade de ver desde uma outra perspetiva.

Com a partilha do processo queremos dar a conhecer as nossas pesquisas e lugares por onde passamos, democratizar a informação deixando-a disponível a todas as pessoas com acesso à Internet que nos queiram acompanhar e, de alguma forma, desmistificar o processo criativo (ou contribuir para o seu mistério?).

Inicialmente, estando os intérpretes vestidos de preto com bolas brancas, optei por recorrer a imagens a preto e branco, tanto em fotografia como no vídeo. Esta opção leva a uma abstração que permite um maior foco nos objetos, intérpretes e seus gestos. No CAMPUS, quando um código de cores passou a ser relevante na investigação, optei por registos a cores.

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